Atacama e Salar Uyuni - 2008


Empresas parceiras que ajudaram a concretizar essa expedição:


 No dia 2 de fevereiro de 2008, eu e minha mulher saímos para a realização de mais um projeto. A Rota dos Desertos da América do Sul. Saímos do Brasil por Ponta Porã-MS e Retornamos por Cáceres-MT, atravessando o Paraguai, Argentina, Chile e Bolívia. A expectativa era grande pois Deserto do Atacama e Salar Uyuni são praticamente duas viagens em uma. Um teste para os tripulantes e para a Moto. Vejam como foi essa viagem.


Cuiabá-MT - Campo Grande-MS (700Km). Já saímos na maior preguiça, lá pelas 8 horas da manhã, isso por que estava combinado às 5 horas. Nesse dia percorremos os cansativos 700km até Campo Grande-MS. Chegamos já eram 18:00, cansados pelo primeiro dia, logo de cara em uma estrada com movimento extremo de caminhões e um pouco de chuva. Em Campo Grande ficamos 2 dias e seguimos para Ponta Porã, na esperança de fazer compras, como se coubesse mais alguma coisa nos 2 alforjes e no baú. Ponta Porã praticamente marcou o início da viagem, pois dali em diante, não sabíamos mais o que nos esperava.

Campo Grande-MS - Ponta Porã-MS (324Km). Seguimos para Ponta Porã-MS na expectativa de comprar algumas cositas no lado paraguaio, mas nos decepcionamos com o preços. Como minha capa de chuva já era usada, resolvi comprar uma, mas quando vi o preço não acreditei. Praticamente a mesma capa que no Brasil custa R$40,00, no Paraguai custa R$60,00. Fomos pra seção de informática,o Lap Top mais barato estava custando R$2.500.00. A expectativa ficou mesmo para a sessão de motos que deverá inaugurar em março de 2008. A propaganda é que vai ter tudo. O jeito é esperar. Nesse dia dormimos em Pedro Juan Cabalero-Pr.


Ponta Porã-Br - Assunção-Pr (460km). O Paraguai me surpreendeu, imaginava um sertão, cheio de cidadezinhas do tipo filmes de faroeste, mas as estradas são boas, peca um pouco na sinalização. A 110 km de Ponta Porã tem um trevo que temos que pegar a esquerda prá irmos para Assunção, caso contrário você vai pra Concepcion, e foi justamente o que eu fiz. andamos uns 150 km a mais nesse erro.
Estrada que não tem nenhuma placa sinalizando que a entrada à esquerda vai para a Capital do País, e como nesse trevo tem uma vila, tem-se a impressão que a estrada à esquerda é uma rua entrando nela. Depois que entramos a esquerda, dali uns 500 metros, aí aparecem placas de toda cor e tamanho, vai entender?! Nesse trecho, pegamos chuva o dia inteiro. Até Assunção o risco maior na estrada é a quantidade impressionante de animais de cria soltos, requer muito cuidado. Chegamos na Capital por volta de 17 horas, já estava escurecendo, só tivemos tempo de procurar hotel. As opções são muitas e os preços são razoáveis.



Assunção-Pr - Monte Queimado-Ar (637Km). Esse dia saímos bem cedo de Assunção, iríamos pegar um longo trecho de estradas, inclusive o "Pampa Del Inferno".

É uma estrada extremamente reta, da vontade de acionar o piloto automático e dar um cochilo, não tem nada pra ver, é só rodar e rezar pra não dar nenhum problema, pois ali não passa nada e ninguém, isolamento total. A pedaleira para apoio dos pés foi de extrema importância, proporcionado mais conforto prá mim e minha mulher que esticava as pernas apoiando-as nas pedaleira do piloto. Já no final da tarde, quase escurecendo, não sabíamos a menor idéia de onde estávamos, de repente escutamos um estalo, parei prá ver, era a corrente que tinha quebrado bem na emenda, o elo da corrente só estava preso por um lado. Não tinha nada a fazer senão seguimos em frente.
Prá nossa sorte, logo a frente uns 2 km tinha uma cidadezinha, com uma única oficina, que resolveu nosso problema e seguimos até a próxima cidade, Monte Queimado, lugar pitoresco.



Monte Queimado-Ar - San Salvador de Jujuy-Ar (513Km).
Saímos tarde de Monte Queimado, pois sabíamos que nosso destino era Jujuy e não era tão longe. Continuamos por estradas isoladas e sem acostamento até próximo de Gal. Guemes, onde pegamos uma estrada fantástica de pista dupla até San Salvador de Jujuy. Jujuy é a última cidade antes da Cordilheira, muito aconchegante, com muitos hotéis e albergues, cidade interessante cheia de bares movimentados, calçadões, pub´s. O melhor, é procurar se hospedar bem no centro da cidade, é ali que tudo acontece.


San Salvador de Jujuy-Ar - San Pedro do Atacama-Ch (514Km). Chegou um dos dias mais aguardados. Acordamos de madrugada, pois sabemos que esse trecho pode oferecer muitas surpresas e imprevistos, é isso que não queremos a 4.850 metros de altitude. Deixei prá abastecer a moto na saída da cidade, pois Jujuy é uma cidade grande e imaginava ter postos de combustível na entrada e na saída, e não tinha. Andamos uns 15 km e tivemos que voltar com a gasolina na reserva, atravessamos a cidade inteira e nada de posto de gasolina. Pasmem vocês, só tem posto na entrada da cidade, sentido Passo Jama e no centro. Mas foi um mal que veio para o bem. Abastecemos a moto e a barriga, e na saída observei uma poça de óleo embaixo da moto, não acreditei na hora que vi, pois minha moto nunca vazou óleo e eu a tenho já uns 3 anos.



Quando olhei embaixo do motor, o camarada que trocou o óleo no dia anterior, não apertou o parafuso, ele estava preso só na pontinha e se eu tivesse seguido viagem com certeza não ia ver esse parafuso caindo e com certeza iria comprometer a viagem. Reabasteci o reservatório de óleo e pronto, seguimos para uma da melhores estradas que já percorri. Saímos de 1.250 metros e fomos até 4.850 metros de altitude. A estrada é belíssima, cheias de curvas, precipícios, os pneus Samson por ter borracha macia, transmitia muita segurança nesse terreno traiçoeiro.



No caminho passamos por vários pontos turísticos e um deles é o Morro das Sete Colores, localizado na cidade de Purmamarca-Ar, a 2.195 metros de altitude. É um morro, como podem ver na foto ao lado, sem nenhuma vegetação com todas as suas camadas de minérios e calcário diferentes, expostas, dando um efeito muito bonito e a razão pelo nome. Purmamarca é um cubículo, não tem nada além de camping, que por sinal estavam lotados de barracas e trailers. Seguimos em direção a Passo Jama, fronteira com o Chile. O frio já começa a incomodar, mas nada comparado com o que nos esperava adiante da fronteira. Essa estrada tem pouco postos de combustível e com a altitude elevada a moto tende a gastar mais.



Nesse momento, as fotos dizem mais do que qualquer palavra. Quando pensamos que já estava chegando no topo da Cordilheira dos Andes, a montanha novamente se impunha diante de nós, se mostrando quase intransponível, possível somente para os teimosos. Quando mais a altitude se elevava, no caminho inverso a temperatura caia. Aos poucos os picos nevados já começavam a aparecer e os efeitos colaterais também, a XT 600 que é uma moto carburada já começava a reclamar do ar rarefeito, falhando um pouco em altas rotações mas nada que comprometesse as subidas que pareciam infinitas. Observe a foto ao lado e tinha muita coisa pra cima ainda. antes do Passo Jama, posto de fronteira, uns 100 km, tem um posto de gasolina, ali é bom abastecer um tanque reserva de pelo menos 5 litros, nunca se sabe como a moto vai ser comportar naquela altitude.




Passo Jama é a fronteira da Argentina com o Chile, é necessários fazer toda a tramitação burocrática, perde-se mais ou menos uma hora, isso se a estrada não estiver fechada devido às fortes nevascas. Conhecemos um grupo de jipeiros de São Paulo que estavam indo pela primeira vez, seguimos mais ou menos próximos um do outro e não muito distante da fronteira o bicho pegou, quando vi que a estrada literalmente sumia dentro de uma nuvem muito densa e extensa, pensei comigo, é neve. A Daniele naquele momento, já não parava quieta na garupa, nunca tinha visto neve, aliás em Cuiabá-MT, a temperatura chega aos 41 graus praticamente todos os dias no início da tarde.

Não demorou muito e os flocos de neve começaram a bater na bolha, que diga-se de passagem, equipamento obrigatório nessa viagem. Imediatamente paramos para registrar. Quando olho para a garupa da moto, minha mulher estava em pavorosa, tremia mais que vara verde em dia de vendaval. Daniele, de tanto medo, pegou carona num dos jipes por uns 15 Km, depois voltou pra moto. A neve, na realidade, não é sinônimo de muito frio, o pior vem depois dela. Nesse momento a temperatura estava em 3 graus. Depois da nevasca que nos acompanhou por uns 30 kilometros, começou uma descida de 42 Km rumo ao Deserto do Atacama, do alto da Cordilheira já o vimos lá embaixo, da até vontade de colocar a moto no neutro e deixar descer com motor desligado, mas como é uma manobra perigosa, paciência. Ao longo da estrada varias saídas de emergência para caminhões, pois o declive é muito íngreme.
Chegamos em San Pedro do Atacama, o dia ainda estava claro e uma fila enorme na Aduana. Seguimos em frente e logo fomos procurar hotel, que têm aos montes, para os mais variados gostos e bolsos. Encontramos uma boa alternativa. Tem vários terrenos, onde os proprietários construíram pequenas cabanas, bem confortáveis e locam pela metade do preço. A que ficamos nos custou U$40 dólares a diária. Nesse mesmo dia já procuramos as agências de turismo para verificar os passeios disponíveis e já adquirimos o pacote para Os Gêiser El Tatio para o dia seguinte. Jantamos no restaurante La Estaka, muito bom.


San Pedro do Atacama-Ch(3 dias). No dia seguinte, iniciamos nossa jornada pelo Deserto do Atacama. Logo de madrugada fomos ao encontro do grupo organizado pela Empresa "El Desierto" por 32 dólares por pessoa, ver "dicas", rumo aos Gêiseres El Tatio a 90 km de San Pedro do Atacama, 4.320 metros de altitude. Subimos na van e seguimos. Com certeza essa foi a melhor opção, pois a estrada é muito ruim e confusa, cheia de pequenos riachos e areões, que de moto, deixaria de ser passeio e viraria um verdadeiro rally. No início não se aproveita nada, pois ainda está escuro. Chegamos nos Gêiseres El Tatio por volta das 7:30 da manhã, a temperatura estava 8 graus negativos. O clima ali no El Tatio, com sol, estava imensamente mais forte que a neve no Passo Jama. Entramos na região dos gêiseres, de longe já dá prá ver as fumaças que brotam da terra. Poucos lugares oferecem aquele espetáculo da natureza, é impressionante aqueles olhos d'água ferventes brotando da terra com imenso jatos de ar e água quente.


Na primeira etapa do El Tatio, visitamos os maiores Gêiseres, onde inclusive é servido um café da manhã pelas empresas de turismo, com leite e outros vários produtos aquecidos nos olhos d'água quente. Saímos e seguimos em frente por mais uns 2 kilometros, onde ficam as piscinas de água quente, com a temperatura fora d'água abaixo de zero, a água nas piscinas se mantém as 30 graus, o problema é na hora de sair da piscina. Na saída pagamos uma pequena tarifa.


Retornamos de El Tatio por outro caminho. As montanhas com neve são paisagens constantes nesta estrada. A visão é lunática, devido a rastro de erupções antigas. Chegamos a San Pedro por volta de 13:00 horas e já seguimos de moto para conhecer os pontos turísticos próximos da cidade. Fomos primeiro ao Vale da Lua e na seqüência da estrada saímos no Vale da Morte. A paisagem é totalmente árida e sem vida vegetal. Na seqüência, fomos conhecer a Cordilheira de La Sal, que é uma seqüência de montanhas mais baixas, que são observadas de um mirante na beira da estrada, totalmente coberta de sal. Mais a frente está o "Valle Da Muerte". Nesse lugar, andamos por estradas estreitas, entre os morros de uma pequena cadeia de montanhas, lugar isolado e sombrio devido aos paredões a sua volta. Retornarmos para San Pedro já no final da tarde, fizemos um city tour sem guia, fomos conhecer as praças, ruas movimentadas, pub´s por toda parte. Aceita-se cartões de crédito em praticamente todo o comércio, até nas bancas de artesanato instaladas na rua. Tem 2 caixas eletrônicos em San Pedro, um no banco do Chile, mas não aceita a bandeira "Visa", somente "Maestro" e o outro localiza-se nos fundos de uma lojinha de artesanato. Esse último não funcionou em nenhum dos dias que ficamos lá, haviam filas enormes, mas tudo parado. Leve dinheiro, tem casa de câmbio prá todo lado e fazem troca direto em "Real".


No dia seguinte fomos conhecer Salar de Atacama, está localizado a 62 km de San Pedro. A estrada é toda asfaltada, ripio somente dentro do parque por uns 10 km até chegar à sede. O salar é todo coberto por uma crosta de terra e sal, que cobre uma área de 320.000 ha a 2.300 metros de altitude, o clima é bom. Na sede do parque assistimos um vídeo sobre o lugar, visitamos as lagunas próximas onde haviam algumas espécies de Flamingos e tanques onde vivem uma espécie de camarão só existentes no Salar de Atacama, resistentes a altíssimos graus de salinidade da água. Retornamos a San Pedro do Atacama em torno do meio dia e resolvemos seguir viagem.


San Pedro do Atacama-Ch - Calama-Ch (103Km). Despedimos aqui de San Pedro do Atacama e seguimos para Calama. Chegando lá procuramos um lugar pra trocar de óleo e pneus, pois o nosso já estava judiado pelo peso da moto. Com meus 110 kilos mais os 70 da Daniele (ele aumentou meu peso! isso não se faz... rs) e 25 de bagagem, totalizam 205 kilos de carga que a XT600 carregou com muita competência, que máquina fantástica! Mas para nossa surpresa, no Chile não existe moto com aro traseiro 17, somente 18, então a troca foi só de óleo. Tentamos ainda seguir viagem, baseado em uma informação errônea, de que a estrada até Ollaqüe era asfaltada. Andamos 30 kilometros e já avistamos a estrada de terra, resolvemos voltar, pois já era 16:00h e não tentamos arriscar. Voltamos para Calama, jantamos num charmoso Pub. Nesse dia, 14 de fevereiro, dia de San Valentin no Chile, comemora-se o dia dos namorados, música ao vivo, vinho, com direito a comemoração e tudo.


Calama-Ch - Uyuni-Bo (390km). Esse foi um dos dias mais difíceis de nossa viagem. Seguimos para fronteira do Chile com a Bolívia. No começo a estrada de ripio é boa, conseguíamos desenvolver velocidade de 80km por hora sem dificuldade, mas aos poucos a qualidade da estrada piorou muito, deixou de ser ripio prá ser uma mistura de areia e pedra, somado a isso o isolamento total. A estrada é praticamente sem movimento, salvo algumas carretas. Passamos por pequenos salares, alguns atravessamos bem no meio, dava pra sentir o sal na garganta, carregado pelo vento. A paisagem é belíssima, avistávamos a toda instante vulcões, alguns extintos, outros ativos soltando fumaça no seu pico.



Com exceção dos primeiros 90 km, a estrada não é boa e chegamos somente a Ollague(Oiagüe) às 12:30. Já fomos primeiro na Aduana do Lado Chileno, carimbaram passaporte, deram o ok na saída da moto e fomos procurar um restaurante e pasmem vocês, num daqueles lugares, que mais parecia uma cidadezinha de faroeste, há um restaurante com comida boa e ar condicionado, muito necessário, pois ali o calor era infernal, o problema seria gasolina. Para Uyuni na Bolívia, são mais 202 Km de muita precariedade e em Ollague, quem pode arrumar um pouco de gasolina são os próprios moradores. A dica é procurar Dona Terezinha, no posto telefônico. Segundo alguns moradores, ela tem gasolina, mas nem sempre. Na hora de ir embora, passamos na Aduana Boliviana e como já era esperado, a corrupção se mostrou ainda ativa naquela região e sem motivo algum tivemos que pagar 9 dólares para passar. Seguimos por aquela estrada que parecia não ter fim, Daniele já estava anestesiada na garupa e só queria chegar em Uyuni (E ele, Fausto, querendo parar para filmar e tirar fotos). Esses 202 km pareciam 1.000, pois não chegava nunca e não dava para andar bem, devido às condições da estrada. Ao entardecer, pra nossa surpresa, havia um postinho de gasolina, o frentista nos informou que faltava 80 km pra chegar em Uyuni, então resolvemos continuar a viagem. Conforme foi entardecendo, a temperatura foi caindo bruscamente. Uyuni está localizada em uma planície imensa e prá nossa infelicidade, o frentista estava errado, foram mais de 120km de estrada ruim. Eu já estava na expectativa de enxergar as luzes da cidade de Uyuni, o que já iria nos animar, mas nunca que conseguia avistá-las, mas de repente, estávamos em Uyuni, "sem energia" e por isso não a avistávamos, dando a impressão de ainda estar longe. Procuramos um hotel no escuro e naquele noite nem saímos, ficamos no quarto do hotel mesmo. Eu cheguei com muita dor no peito, pois minha viseira era escura e acabei andando grande parte do percurso com ela levantada. Eu havia planejado não andar a noite, esse foi um imprevisto. Um dia inteiro pra andar 390km.
Uyuni-Bo (2 dias). Ao amanhecer, ainda cansado da viagem, fomos nos informar sobre como estava o Salar. A informação é que estava com uma lâmina de 15 cm de água, mas os passeios de 4x4 estavam sendo feitos. Contratamos uma das milhares agências de turismo e seguimos para o Salar. Às 11 da manhã saímos em direção ao Salar, mas antes fomos visitar o Cemitério dos Trens. Após, seguimos e paramos em frente de uma casa modesta, onde o motorista desceu para pegar nosso almoço. Panelas, pratos, copos, bebidas, tudo amarrado em guardanapos de pano. Próxima parada: Colchani, onde se vende artesanatos de sal. Compramos algumas poucas cositas, afinal, não cabia mais nada no bauleto da moto. Até as crianças ali são instruídas a cobrar por tudo. Daniele sentou em um banquinho para descansar e logo veio uma criança de uns 06 anos perguntando se queria comprar alguma coisa e que não podia sentar ali.




Seguimos para o Salar. Próximo dali já é possível ver o espelho d'água, onde o horizonte se funde com o céu. Aqui os jipes começam a navegar Salar adentro. Há alguns trabalhadores fazendo montes de sal para comercialização. Esses trabalhadores usam roupa apropriada, é claro, manga comprida, calça comprida, bota e óculos de sol. Aliás, óculos de sol é extremamente necessário, porque além do sol, o sal, que some de vista, pioram a visão. Após 3 km aproximadamente, chegamos no Hotel de Sal. O guia nos informou que o hotel estava desativado para hospedagem, mas quando chegamos lá vimos que havia um quarto com hóspedes.


Para adentrar no hotel é preciso comprar algum produto da pequeníssima lanchonete que fica lá dentro. Ao meio-dia o motorista/guia retirou as trouxas do carro, onde estava o nosso almoço que foi servido ali mesmo. O lugar impressiona pela sua imensidão, turistas de toda parte do mundo e uma cena que achei fantástica, um ônibus de linha, cortando o salar rumo ao nada, a orientação devia ser por bússola pois não havia estrada, a água tinha tomado conta de tudo. Dali fomos visitar alguns sítios arqueológicos, ver algumas múmias em Colchani e retornamos para o hotel. A noite Uyuni e movimentado e animada com alguns bares e pub´s para visitar.
Uyuni-Bo - Potosi-Bo (176Km). Após algumas tentativas de pegar um trem para Oruro-Bo, pois nos disseram que a estrada é muito bonita e também pra dar um descanso para a bunda, desistimos e seguimos para Potosi-Bo às 10 horas. Chegamos no final da tarde na cidade mais alta do mundo, localizada a 3.900 metros de altitude. Faz muito frio, Potosi é gelada. A cidade é toda desnivelada, muita buzina, trânsito caótico. A noite, um fato curioso, saímos para jantar e vimos uma senhora sentada de cócoras na calçada, ao lado de vários outros vendedores ambulantes, vendendo carne! Segurando uma balança de mão, com um pedaço de carne no gancho e outro tanto de carne sobre a calçada em cima de um plástico, coisas da Bolívia. Ficamos em um hotel muito aconchegante, "bano privado, água caliente, tv, desayuno", se não fosse o episódio do papel higiênico, também curioso. (Daniele: Ao sairmos para jantar, notei que não havia papel higiênico no banheiro, falei então com a recepcionista, que me contraditou na hora, dizendo que havia papel sim. Retruquei dizendo que não havia. Então quando chegamos do jantar, já no quarto, à vontade, prontos para dormir, eis que bate na porta uma funcionária do hotel com o rolo de papel na mão. Com a porta entreaberta, por trás da porta, estiquei o braço para pegar o papel. Para minha surpresa, ela empurrou a porta e disse que ia até o banheiro ver se não havia mesmo o papel. Entrou, viu que não tinha papel e só então me entregou o rolo. Pois bem, deixa estar. Quando deixamos o hotel, levei o papel) .


Potosi-Bo - Saipina-Bo (427Km). No dia seguinte, após troca de óleo e inútil busca pelo pneu traseiro, seguimos para Sucre, capital da Bolívia. Saímos de Potosi já era quase meio dia. A estrada até Sucre é asfaltada com picos de até 4.200 metros de altitude, andamos nesse trecho literalmente no topo da Cordilheira dos Andes. Em Sucre paramos somente prá almoçar e seguimos viagem, pois havia muito ainda a nossa espera, daqui em diante a estrada é ruim, igual ao trecho chegando em Uyuni, uma mistura de areão com pedra. Aqui as retas já são curtas e curvas de 180 graus a todo momento. Essas estradas a alguns dias atrás, foram detonadas pelas chuvas na Bolívia. Havia trechos que as estradas rolaram montanha abaixo, passamos por pequenos desvios, lugares que mal passava a moto, e a alguns centímetros dos abismo. Em vários trechos haviam verdadeiras avalanches em cima da estrada, infelizmente a bateria da máquina acabou e ficamos sem fotos do lugar. Só um alerta quanto a isso, a energia nessas regiões é 220w. Nesse dia, ao insistirmos na volta prá casa, dormimos em Saipina, onde chegamos às 23 horas e fomos para o único hotel da cidade e não tinha água, dormimos sem tomar banho, mas o cansaço era tão grande que foi mais um desmaio. Já estávamos com 993 Km de terra com o pneu careca. Creio que aquela "vacina verde" que coloquei nas duas câmaras de ar ajudou e muito nessas horas. Nesse trecho levamos nosso segundo tombo em um banco de areia, tudo tranqüilo, até por que ele foi amortizado pelos alforjes, equipamento esse extremamente necessário nas viagens, multifuncional, ajuda também aliviar as quedas. Rs...


Saipina-Bo - Santa Cruz-(bo) - Los Troncos (455Km). Saímos de Saipina rumo a Santa Cruz. A ansiedade para chegarmos logo no asfalto era grande, mas restavam ainda 28 Km de terra. Não abastecemos nessa cidadezinha, pois contamos que na chegada no asfalto, já teriam vários postos de combustível. De fato até tem, se não fosse o fato de praticamente toda a Bolívia estar sem energia e as bombas de gasolina deles não funcionarem manualmente. Nesse momento, minha moto, companheira de estrada que não me deixou na mão hora nenhuma, fez mais uma gracinha, média de consumo de combustível próximo de 28Km/l. Andou acima de 350 km com um tanque, até chegarmos num lugar que tinha gasolina a granel, mas estávamos sem grana, pois os caixas eletrônicos não funcionavam devido à falta de energia. Colocamos alguns litros e assim fomos até Santa Cruz. Chegamos cedo ainda e já fui procurar pneu, só encontrei em um loja, na "Becas", que alias "é a loja" em Santa Cruz. Quando me falou o preço do pneu não tive dúvida, comprei um pneu Pirelli 140x80x17 por 80 dólares ou 136 reais, show de bola! Seguimos viagem até onde havia luz do dia pra rodar, pois o trecho seguinte, era pra "gente grande".
Los Troncos-Bo - San Ignácio-bo (340km). Este trecho foi um dos mais difíceis, muita terra molhada, estrada muito escorregadia com a moto pesada, aliada a vontade de chegar em casa. O tempo passava, mas quase não saíamos do lugar. Não dá para acelerar com o terreno extremamente escorregadio. De vez em quando olhava para o painel da moto para ver se já estava perto, e nada, tínhamos andado pouco, comecei a sentir dor nas pernas, no pescoço, além da bunda, é claro. Não tem nem um bar nesse trecho, é só terra, e daí parece que a sede aumenta ainda mais. Chegamos em San Inácio às 14 horas. Almoçamos muito bem, enfim, arroz, feijão, carne, ovo e salada, além daquela geladíssima Pacënha. Resolvemos dormir em San Ignácio, pois embora o trecho andado tenha sido pequeno comparado com outros dias, foi muito cansativo, e além disso o próximo trecho de 300 km seria muito grande para sair da cidade às 14 horas. Nos hospedamos em um hotel no centro, em frente à praça, confortável, com água quente, garagem própria, sacada.
San Ignácio-Bo - Cáceres-Br (300Km). Deixamos o hotel às 7:30 rumo a Cuiabá. Chegamos em San Matias às 16:00 horas. A fila para abastecimento dava voltas. Soubemos que apenas uma vez por semana o posto é abastecido, então todos vêm nesse dia para comprar combustível reserva. Compramos gasolina a granel, suficiente para irmos até Cáceres. Chegamos tão cansados e resolvemos dormir por aqui. Depois de um banho caprichado, jantamos em uma Peixaria localizada num deck no Rio Paraguai, pintado assado no espeto, pacu frito, uma delícia!
       Cáceres-Br - Cuiabá-Br (225Km). Enfim chegamos, casa, minha casa! Uma coisa ficou bem claro pra mim, viagens com a "velha mochila" amarrada na garupa já é coisa do passado. Nada melhor do que viajar bem equipado, com bolha, suporte para descanso dos pés, alforjes, bauleto de pelo menos 30 litros são extremamente necessários e trazem mais segurança e mais conforto aos navegantes.


Para que a Expedição Rota Dos Desertos se realizasse, foi necessário muito planejamento que se iniciou em Novembro de 2007. A Internet foi uma fonte muito grande de informação. Agradecemos aos nossos colaboradores Atração Moto Yamaha, peças, acessórios e serviços que nos auxiliou na preparação das máquinas, Móbil Lubrificantes de Mato Grosso, Pneus Samson, localizadas em Cuiabá-MT, Criativa Acessórios e a Gripho Alforjes.
Você é o   visitante a saber como ocorreu a Expedição Rota dos Desertos, espero que tenham gostado. Esta página foi feita com a intenção de compartilhar o prazer que é viajar sobre "Duas Rodas".