Machu Picchu - 2010



Segue abaixo o relato da nossa mais recente viagem. Foi relizada em julho de 2010 por mim, Daniele, Saul, Camila, Sebastião, Alessandra, Saulo e Cristiane.
Grandes companheiros de estradas que espero ser essa a primeira de muitas outras viagens.

Tenho a agradecer a todos eles pelos bons momentos, muitas risadas e até nos horas mais difíceis, alguma coisa saía pra animar o ambiente. Muitas dificuldades foram encontradas e todas superadas, certo que algumas deram mais trabalho.

Agradecer ao Claudinei Daleffe que tem me emprestado suas botas de viagem e protetor de manete, aliás , desde a viagem que fiz pro Deserto do Atacama em 2008...Obrigado amigo, mas agora já deu usucapião.

O que tenho a lamentar e muito, foi a perda da minha máquina fotográfica. Se soubesse onde esta, voltaria pra buscar.
As fotos abaixo. foram fornecidas pelo Saulo, Saul e Sebastião e algumas extraídas de filmagens, por isso a baixa resolução.

Blog do Sebastião: http://www.projeto-andes-2010.blogspot.com/
Blog do Saul: http://sites.google.com/site/bichoestradeiro/home

Para videos no Youtube clique aqui

Quero agradecer também ao Ubiratan da CoLubrificantes que me auxiliou no preparo da máquina com Pneus Pirelli Escopion e Lubrificantes Móbil,  o que proporcionou uma viagem muito tranquila e segura. Capitulo à parte para esse pneu, pois mesmo com a Moto pesada, garupa e mais bagagem o pneu se comportou muito bem nas curvas e chegou com mais de meia vida em Cuiabá, depois de 7 mil kilômetros rodados.

E agradecer tambem ao Posto Lunna da Avenida do CPA, enfrente ao Banco do Brasil. Ali temos amigos que nos incentivaram a fazer a viagem e que tambem é nosso ponto de encontro aos sabados.

Cuiabá-MT -Cacoal-RO - Km 987:

O tal esperado dia até que enfim chegou. Nos reunimos no Posto Lunna às 6:00h, e aos poucos os companheiros de estrada foram chegando, primeiro Saul e depois Saulo. Abastecemos as motos, alguns ajustes de última hora e saímos todos juntos, com exceção do Sebastião com a Alessandra que foram de carro, seguiram na frente com receio de ficar pra tras. Sumiram na frente. Chegaram em Cacoal às 15h e nós às 18h. 

Logo na chegada de Cacoal, estavam nos esperando um grupo  do Expedicionário da Amazônia, onde fomos muito bem recebidos por todos, com direito a churrasco 0800 e calorosa recepção. Servem de inspiração e exemplo do que é uma irmandade motociclista respeitada que preza a amizade e a confraternização. Saibam que serão sempre vindos em Mato Grosso e bem recebidos.


Cacoal-RO - Rio Branco-AC - Km 979:

Saímos de Cacoal bem cedo, pois hoje será um dos dias mais longos da viagem. Serão 979km de estrada razoavelmente conservada. Saulo teve a corrente da sua moto quebrada  e pra quem nasceu com aquilo virado pra lua, no mesmo instante ia passando um guincho de moto e socorreu ele.  

 
Até Porto Velho, capital de Rondônia, tem algum movimento e pequenas cidades, mas depois, o trecho seguinte é isolado, com longas retas em meio às pastagens. No meio do caminho a travessia do Rio Madeira,  que separa os Estados do Acre e Rondônia. 
Demorou um pouco e o calor era infernal. No trecho seguinte mais isolamento, kilometros e kilometros sem cidades, vilas e postos de combustíveis, apenas retas que permitiram velocidades de cruzeiro em torno de 140 a 150 km por hora a fio e como eu e Saul estávamos sem garupa, rendeu bastante esse dia. Chegamos em Rio Branco já no final da tarde, claro ainda e após localizar o hotel em que as "meninas" se instalaram, fomos ao seu encontro. Daniele e Camila chegaram por volta das 13h e foram fazer um tour pela cidade. Ficamos próximo do Mercado Central que é um point turístico onde acontecem os eventos noturnos da cidade. Muitos bares com música ao vivo nas duas margens do rio Acre, interessante que tem uma ponte somente para pedestres em forma de meia lua ligando as extremidades, bonita à noite, toda iluminada e com gente indo e vindo a todo o momento. 

A partir daqui começaria a viagem com todo o grupo rumo às Cordilheiras do Andes.

Rio Branco-AC - Puerto Maldonato - Km 575

Saímos já eram 8h, pois esperamos o Tião arrumar a porta do carro que deu problema no vidro. Nesse dia não sabíamos ainda o que nos esperava na fronteira, pois geralmente é meio chato para entrar nesses países. Novamente retas e mais retas, isoladas e com pouco movimento. Só Rio Branco acomoda a metade da população daquele estado, tá quase tudo ali com seus pouco mais de 300 mil habitantes. Antes de chegar em Assis Brasil-AC, passamos pelo posto da Receita Federal para fazer a saída do país e a verificação dos documentos das motos, almoçamos em Assis Brasil num lugarzinho pitoresco e seguimos para fronteira do Peru. Ali, policiais corruptos me pegaram uns 10 soles e depois de mais de uma hora, nos liberaram para seguirmos viagem. Já no início da estrada, algumas fotos de como era a estrada antigamente e como é agora, infelizmente, quase tudo asfaltado, mas as fotos da estrada, pra não dizer trilheira, em meio à floresta amazônica com travessia de pequenos riachos me deixaram com uma sensação de ter chegado atrasado. No Peru as estradas são boas, asfalto novo e bem sinalizado, dessa forma chegamos em Puerto Maldonato às 18h. Antes de chegar literalmente na cidade, tivemos que atravessar o rio Madre de Dio em pequenas canoas que mal cabem um carro e se o barco virar, duvido muito que tenha algum seguro, vai na sorte mesmo. 
Na saída da travessia, já dentro da cidade escuto um barulho estranho na roda traseira da minha moto, dentro do cubo. Diante daquele fato que não parecia ser fácil de arrumar, levando em consideração estar no Peru e lá não ter a XT 660, já comecei a pensar na hipótese de encerrar a viagem ou voltar para Rio Branco, fazer a manutenção e alcançar o grupo em Cuzco.

Puerto Maldonato - QuinzeMil:
No dia seguinte, depois de escutar o Saulo que sabe muito da XT660, procuramos alternativas naquela cidade que deve ter umas 300 mil motos e triciclos, nunca vi tantas assim. Procurei uma autorizada Yamaha, a foto  já diz tudo, não prometia muito. 
O diagnóstico foi fácil e rápido, o que havia estourado eram aquelas gomas de borracha que ficam no cubo, em forma de uma gremalheira e a solução foi artesanal e pra minha sorte, ficou melhor que a original, tanto é que estou usando até hoje. 
O camarada fez das 8 gomas de borracha, 4 peças inteiriças de pneus de caminhão, dá pra contar até as lonas e simplesmente encaixaram no cubo traseiro, ficou perfeito, não tiro mais, só por outras. A previsão era de sairmos depois do almoço pra Cuzco, mas outro problema nos pegou de surpresa. O Saulo foi usar o caixa eletrônico e a máquina engoliu o cartão dele e não devolveu mais, resultado, tivemos que correr pro banco, esperar abrir e só depois nos informaram que as máquinas só poderiam ser abertas às 17h, para então recuperar o cartão. Embolou o meio de campo, pois a gente não sabia como era o trecho de estrada à frente, mas resolvemos que, o Tião que estava de carro, ia ficar pra pegar o cartão e nós seguiríamos até QuinzeMil. 
O Trecho de estrada que pegamos nessa dia é formado, até aquela data, de trechos de asfalto de 3 ou 4 kilometros de terra e um trecho grande de 40 kilômetros de terra, mas todo ele em construção com muita máquina e homens na estrada, assim sendo é possível que hoje a realidade já seja outra. 
A estrada é bonita, margeando a cadeia de montanhas e subindo. Pena que boa parte da paisagem nós perdemos por ter saído tarde de Maldonato. Chegamos em QuinzeMil já estava escuro e nessa vila não tem nada, o melhor mesmo é procurar alguma coisa pra comer e ter sorte em pegar um hotelzinho razoável, por que bom não tem. Recomendo sair de madrugada  de Puerto Maldonato e seguir pra Cuzco no mesmo dia.

QuinzeMil  - Cuzco

Saímos o mais cedo possível daquele buraco, tava escuro ainda e com um pouco de frio. Fiquei um tempão checando se o barulho da roda traseira iria voltar, ainda sem muita segurança, mas o serviço foi bem feito.

A estrada é belíssima em meio à floresta e aqui já praticamente não tem estrada de terra, somente asfalto e novo. 
Chegamos em Cuzco estava claro ainda e já fomos procurar nosso hotel. Tivemos um pequena perda de tempo aqui, pois nossa reserva era pra iniciar no dia anterior e a transferência feita no ato da reserva pelo West Union, ainda não havia chegado. Não recomendo o West Uniom para esse tipo de negócio, pouco confiável e nem os bancos, no meu caso o Banco do Brasil, não sabiam como funcionava esse sistema, mas o pessoal da Pousada Marlon House foram compreensíveis e garantiu nossa estadia em outro hotel. 
Mas estávamos com outro probleminha, como a previsão de chegada era no dia anterior, nossa passagem de trem pra Machu Picchu já estava comprada e não poderia mudar as datas, foi uma correria só pra pegar o trem no mesmo dia às 20h, detalhe, teríamos que ir pra Olhantaytambo a 1 hora e meia de onde estávamos. Não deu tempo nem de trocar a cueca e já pegamos  a van. 

Chegamos em cima da hora, o trem já estava partindo pra Machu Picchu em 15 minutos. Ufa! Chegamos em Águas Calientes e só deu tempo pra jantarmos próximo ao hotel e já dormir, pois nossa subida pra Machu Picchu estava marcada pra 5 horas da madrugada. Esse dia foi muito corrido, inimáginável sair de QuinzeMil de Madrugada e no mesmo dia estar em Águas Calientes(Machu Picchu) às 20h. Esse mundo é pequeno mesmo. Chegando em Olhataytambo , pra pegar o trem, pra Aguas Calientes nos deparamos com uma cena engraçada, um taxi ao fazer uma curva, a porta abriu e "quase", por muito, essa porta não atingiu uma pessoa, que éra o Wagner, Amigo nosso de Brasilia do Clube XT 600.

Águas Calientes - Cuzco
Saímos bem cedo pra pegar os primeiros ônibus, na fila já estavam umas 100 pessoas. Quanto mais cedo subimos, mais tempo ficaríamos em Machu Picchu. Chegando lá, nos dividimos para as fotos, filmagens, contemplação. 
Ninguém subiu ao Waina Picchu, mas teve gente que até se preparou fisicamente pra subida, Saulo subiu a montanha oposta, chegou mais moído que arroz de terceira. Aquele lugar tem um encanto que não tem palavra que reproduza, só indo lá mesmo. Impressiona muito a grandiosidade daquele lugar, bem como o requinte com que tudo aquilo foi feito, nos mínimos detalhes, rochas de dezenas de toneladas colocadas em lugares altos, que hoje, sem guindaste, desafiaria as técnicas de muitos engenheiros.

Retornamos na hora do almoço e fomos dar um giro por Águas Calientes, muitas lojinhas caras , restaurantes aconhegantes e gente de toda parte do mundo. Ali encontramos alemães, franceses, italianos, japoneses e todos muitos jovens. Machu Picchu parece ser uma rota obrigatória para as pessoas que tem a mochila como estilo de vida. Na sequência fomos às piscinas de águas termais, lugar interessante onde cobram 5 soles pra entrar. Devido às chuvas do início do ano, imaginava que Água Calientes estava destruída, mas trabalharam direitinho e quase não ser percebe a destruição que foi naqueles dias.
Seguimos no final da tarde para Cuzco, nos instalamos em outro hotel, também gerenciado pelo Marlon da Marlon House. Em Cuzco tem muitos hotéis pequenos e antes de fazer as reservas, entrem, observem as camas, banheiros, etc...Isso poderá evitar aborrecimento.

Cuzco:

Hoje fizemos o City Tur onde percorremos vários pontos turísticos da cidade e alguns fora dela. Várias igrejas, ruínas Incas e pré-Incas, e almoçamos num lugar onde vc pode ir buscar o seu almoço. Tem um lago no restaurante, lago esse povoado por Truchas de todos tamanho que vc pode pescá-las e entregar nas mãos do mestre de cozinha, mais fresca só se estivesse vestindo a camisa do time do São Paulo.

Cuzco - Chalamanca
Eu estava ansioso para esse dia. O trecho que nos esperava é uma das estradas mais fantásticas que já percorri, com muitas curvas e a paisagem é algo que da vontade de parar pra ficar olhando por horas e horas. Como saímos bem cedo esse dia e Abancay é muito próximo pra dormir, seguimos pra ver até onde iríamos.
 
Ao entardecer depois de um dia tranquilo, com várias paradas e muita fotos, chegamos até o vilarejo de Chalamanca. A intenção era de chegar até Puchio, mas não é uma boa opção anoitecer e nem madrugar na Cordilheira, pois a temperatura cai vertiginosamente. O hotel até que foi bom, o "Poio" na brasa também, mas na hora de ir embora, resolvemos passar em uma mercearia pra comprar água e lá vimos como eles comercializam o Poio(frango), sem nenhuma higiene e como la é frio, eles pensam que a 
carne não estraga e vimos um banca com uns 10 frangos, pelo cheiro, já em estado de decomposição, teve gente que quase passou mal ao ver aquilo. Feio o negócio e nós comemos e achamos bom ainda.







Chalamanca -Chala.
Nesse dia resolvemos sair de madrugada pra chegar cedo ainda em Nazca e fazer o sobrevôo com tempo limpo. Esse foi o nosso momento mais gelado da viagem. 
O que faz dois motociclistas de capacete dentro de um veículo? Correndo de um frio de 12 graus NEGATIVOS.
 Como eu já sabia disso, saí preparado com tudo que é roupa de frio e seguimos. Conforme ia amanhecendo eu ia observando que tudo estava ficando branco em volta, estávamos em meio a uma geada muito forte, por muito pouco não pegamos neves na estrada, a vegetação estava coberta de gelo, a viseira começou a congelar e eu passava a luva pra limpar e o gelo fazia riscos nas viseira. 
Agua congelada no parabrisa do carro

Escrevendo no gelo
Saul nem parou, passou batido e mais pra frente ficamos sabendo que Saulo com a esposa pediu arrego. Pararam e correram pra dentro do carro e por lá ficaram por uns 30 minutos até amenizar a situação. A temperatura que pegamos foi de -12 graus e andando de moto a sensação térmica foi de -20 graus. As mãos doem e nada parece esquentar o corpo, a solução é seguir em frente e torcer para o sol aquecer as coisas por ali e logo. Impressionante como o clima e o tempo mudam rápido  nesta estrada e de repente o frio acaba e começa o calor. Chegamos em Nazca já com um calor infernal em torno de 10 horas da manha, seguimos para o aeroporto pra fazer o vôo pelas linhas do deserto. Passeio é espetacular e um tanto quanto intrigante devido ao fato das linhas só puderem ser vistas de cima, então como foram feitas e pra que? Seguimos agora pelo Deserto, pela famosa Pan-americana. 
No trecho do deserto essa estrada é uma reta só, pode andar a velocidade que conseguir andar e na sequência ela margeia o Oceano Pacifico. Nesse último trecho é necessário ficar atento ao vento, pois a rajadas são traiçoeiras e muito forte e pode causar acidente. Muitos caminhões e ao ultrapassá-los a rajada de vendo é muito forte, tem que cruzar a frente do caminhão cortando o vento, é perigoso e cabe ficar atento. A intenção era chegar em Arequipa, mas ficamos no meio do caminho numa cidadezinha chamada Chala, pra nossa surpresa com bons restaurantes e hotéis, às margens do Oceano Pacifico. Nesse trecho filmamos uma colônia de Lobos Marinhos na maior algazarra, era possível ouvir eles da estrada. O video esta tremido devido a longa distancia buscada pelo zoom.



 
Chala - Arequipa
Saímos de Chala não muito cedo, o próximo trecho não era grande, porém de muita subida. Aqui nos despedimos do Pacífico, das grandes retas à beira do oceano e do vento que quase nos jogava nos paredões. 
No trecho seguinte, a estrada se divide em duas. O trecho antigo, mais longo,  por onde passam os veículos mais pesados, e o outro, uma estrada que literalmente corta a cordilheira, indo a seu pico, o que seria um problema pra veículos pesados. Eu segui primeiro e logo vi uma reta que não dava pra enxergar o fim. A moto foi ficando muito lenta, observei que a quinta marcha já não estava mais resolvendo, tive que reduzir para quarta, mas sem entender o porquê daquilo. Ocorre que a reta é uma subida imensa, mas tão longa que quase não da pra perceber, só uma hora que olhei pra traz e tive a noção do tamanho da subida, perguntei aos companheiros e alguns nem observaram a subida. Tião sofreu com o gol 1000 nesse trecho. 
A estrada é muito interessante, porém perigosa, cheia de curvas de 180 graus e pequenos túneis  Chegamos em Arequipa e já fomos procurar hotel. Tem pra todos os gostos e bolsos e resolvemos ficar num hotel 3 estrelas chamado Mamatila. Muito bom! A cidade é bonita com vários lugares de passeios noturnos, vários pub´s e restaurantes com todo tipo de culinária. Na Praça de Armas você acha de tudo, restaurantes, bancos, mercados, agências de turismos e lá está umas das mais belas catedrais que vimos até agora. 
A noite mesmo,  fomos procurar o passeio para o Colca Canion e pra nossa surpresa, ninguém ficou com vontade de ir devido ao estilo do passeio. Era pra sair às 2 da madrugada e nesse dia percorrer 600km dentro de uma van apertada. O caminho não desperta interesse, com a exceção do destino, mas não estávamos com disposição de percorrer 600km para observar condores e desistimos.

Arequipa - Km 0:
Saímos cedo para procurar agências de turismo e logo de manhã seguimos para um city-tur que durava praticamente o dia todo. Alguns lugares vale a pena, outros não, mas está tudo no pacote, recomendo fazê-lo.

Arequipa - Puno km 0:
Nesse dia seguimos para Puno e eu estava ansioso, pois em 2004 pegamos uma nevasca no meio do caminho, o frio era insuportável e havia sido em fevereiro e agora estávamos em julho, pleno inverno. Eu esperava muito frio, mas infelizmente, pra minha decepção, nada de frio, realmente o aquecimento global está agindo e mudando o clima, as paisagens das montanhas e tudo que gira em torno disso. 
Infelizmente!!!! Mas a estrada é bonita, esse trecho é um dos mais altos que já percorremos, de pouco movimento e boas estradas, aliás, o Brasil é ruim de estradas, pois no Peru e Bolívia as estradas são boas em sua maioria. Chegamos em Puno e logo fomos procurar uma agência de turismo para agendar o passeio às Ilhas de Uros. Ali mesmo já fechamos o hotel e pra la fomos. Segundo a proprietária do hotel,chegamos um pouco atrasado em relação ao frio, pois há uns 2 dias, fez -24 graus no centro de Puno, as ruas estavam branca de gelo e no dia seguinte quando ela abriu a portas do hotel, havia uma paredinha de gelo de um palmo de altura na porta. Perdemos essa, queria muito ver de perto como é isso, é sobreviver pra conta a história. Puno, assim como Arequipa, é cheia de barzinhos, alguns chiques outros bregas, mas em Puno os locais não são tão esparsos como em Arequipa, fica tudo mais amontoado e pra quem é turista, isso é ótimo, menos taxi, menos caminhada.

Puno - Copacabana Km 150:
No dia seguinte, logo de manha seguimos para Ilhas de Uros. O passeio é interessante, na realidade é mais um teatro, pois chegando lá o barco fica parado em umas das ilhas e as pessoas ali demonstram como era a vida desse povo, que hoje não tem nada de primitiva, só teatro, mas o passeio é bom. A tarde seguimos para Copacabana na Bolívia. Devido a pouca distância alguns de nós resolveram relaxar um pouco no uso de roupas pesadas e fomos com roupas comuns, tênis, calças jeans, etc. 
Chegamos na fronteira e como de praxe, aquela demora, pois tem que fazer a saída do Peru e a entrada na Bolívia, ficamos ali mais ou menos umas 2 horas. Na hora de ir embora saí na frente, sempre buscando um companheiro de estrada no retrovisor da moto. Ao chegarmos em Copacabana, eu e Saulo esperamos um pouco no trevo e logo em seguida chegou um taxi e  o motorista dizendo que um dos nossos companheiros havia se acidentado e que precisava chamar a ambulância. Subiu um frio pela barriga e eu já saí atrás de hospital e Saulo voltou pra ajudar no que fosse possível. 
Não fiquei 2 minutos no hospital e já saí atrás da ambulância, nessas horas a gente pensa o pior e ainda mais que Saul estava com sua filha Camila na garupa. Chegando lá, já haviam trazido Saul para Copacabana de carro e a ambulância voltou pra ver se alcançava o carro , o que aconteceu já perto da cidade. Ao ver Saul e Camila conversando, apenas nervosos, Camilinha "meia passada" pelo susto, fiquei mais tranquilo. O hospitalzinho público da cidade serviria tranquilamente de exemplo para alguns hospitais
aqui do Brasil. Atendimento rápido e certeiro, já cuidou dos dois com vários médicos e residentes atendendo os dois. Muito bom! A cidade de Copacabana na Bolívia está de parabéns e saibam que quem passar por lá, se for preciso, será bem atendido.

Copacabana - El Alto(La Paz) - Km 150 - Altitude 3.990 m

Saul, um pouco melhor, resolveu seguir viagem até Copacabana, e Camila desse momento em diante foi no carro do Tião. No dia seguinte fomos para La Paz. A estrada é sinuosa beirando o Lago Titicaca cheia de sobe e desce que as vezes é arriscado contemplar a paisagem, seguimos muitos kilômetros observando uma cordilheira de montanhas cobertas de neve, até agora creio que a maior sequência delas. Logo em seguida veio o estreito de Tiquina. Esse estreito é tenebroso, pois os veiculos atravessam o mesmo em pequenos barcos e com ajuda do vento, o apuro em ver os veiculos balançando é assustador. Quem está de moto o jeito é ficar em cima dela com os dois pés bem apoiados senão é tombo na certa, mas a paisagem é belíssima.

Chegando em La Paz(El Alto) nossa viagem tomou outro ritmo, na incerteza de Saul continuar a viagem ou não, ficamos em La Paz procurando transporte para a moto, coisa difícil, para logo em seguida ver passagem de avião para Saul.
Acabou que não resolvemos nada. Ficamos 1 dia e meio em La Paz, na realidade em El Alto, município na parte alta da cidade, não parem lá,  não tem nada. Fomos conhecer a estação de esqui de Chacaltaya que está fechada desde 2005, não tem mais neve na montanha, acabou, foi uma decepção o que vimos e uma tristeza também, ali só é possível esqui na pedra. A noite descemos pra La Paz pra comer alguma coisa descente e mais uma vez não conheci Coroico, a estrada mais perigosa do mundo, segundo a UNESCO.

El Alto (La Paz) - Cochabamba Km 353 - Altitude 2.558m:
 A estrada continua no pico da Cordilheira dos Andes, a paisagem é fantástica, mas infelizmente o esperado frio do inverno na Cordilheira dos Andes não deu a cara.
Não tivemos problemas com gasolina, a XT660 se comportou como uma guerreira nas elevadas altitudes, não sentindo o ar rarefeito e com gás sempre disponível a qualquer hora, isso por que eu estava com garupa. Chegando em Cochabamba, fomos procurar hotel. Eu tinha a indicação do Hotel Milenium que ficava próximo à feira de compras, mas chegando lá o povo ficou meio assustado com o imenso movimento do local e fomos procurar outro hotel. A noite saímos pra jantar em um restaurante bem agradável no centro da cidade e por esse dia ficamos nisso. No dia seguinte eu e Dani seguimos para a feira próxima do hotel Milenium e chegando lá, tudo fechado!!! Chegamos uma hora mais cedo, pois exatamente nesse dia começava o horário de verão deles. Putz!!!! mas valeu a pena. A feira é imensa com todo tipo de produto que vai de roupas americanas, notebooks, impressora, bolsas femininas de 500 dólares, jaquetas de couro e muitos eletrônicos. Tudo que se pode imaginar. Os corredores, sem exagero nenhum, não era possível enxergar o final. Recomendo.

Cochabamba - Santa Cruz Km 498 - altitude 400m
Saímos por volta das 8 horas e seguimos para Santa Cruz. Aqui começava nossa descida da Cordilheira. Desceríamos hoje 2.100 metros e o calor já voltada a fazer parte da nossa rotina. 
Tião, a pedido de Saul, foi pilotando a moto e a descida da Cordilheira é bem interessante. Nesse trecho observamos a mudança de clima e de relevo pois os picos nevados das montanhas começam a ficar por tras e o verde das florestas começam a predominar, é fantástico. 
Nos dirigimos ao centro da cidade e ficamos no Hotel  Suiza, na praça da Prefeitura, próximo do centro comercial e da Becar, loja que tem tudo para moto e de primeira qualidade, marcas como Fox, Alpinestar, Acerbis, Givi, shoey, Chark e por aí vai.

Santa Cruz - Km 0.
Ficamos mais um dia aqui para compras, Saul tentou mais uma vez procurar transporte para o Brasil, mas em vão. O preço cobrado aqui foi o mesmo de La Paz, Dois mil reais para o transporte da moto até Cuiabá no Brasil. Santa Cruz é imensa com seus quase 2 milhões de habitantes, muitos bares, restaurantes, lojas e tudo que precisar. A Bolívia, ao contrario do Paraguai, não tem o hábito de vender produtos falsificados, aqui vende-se geralmente,produtos originais importados. Eu vi uma moto do tipo da Biz, menor um pouco, só que no estilo SuperMotard por mil dólares, que vontade de trazer nem que fosse nos ombros.

Santa Cruz - San Ignácio
Uma atenção especial para esse trecho, pois sua maioria é de terra e muito cansativo. Logo na saída de Santa Cruz, procuramos trocar o óleo das motos, mais por precaução por não ter o Yamalube e nos deparamos com essa dificuldade. 
Eles não tem óleo 20x50 ou 20x40 pra moto. eEes usam óleo de carro nas motos. Seguimos viagem já com clima e relevo semelhante ao do Brasil. Muito trânsito de caminhão, a novidade que muito me deixou satisfeito foi que fizeram uma ponte nova na saída de Santa Cruz, pois a antiga, de madeira era o trecho mais estressante da viagem pra mim, acredite, era uma ponte de madeira de pelo menos um dois kilômetros que tinha no meio os trilhos do trem, nem pensar em cruzar eles pelo fato de serem extremamente escorregadios, meu amigo Getulio que o diga, e no trecho aos lados que sobravam para as motos, havia falhas entre uma viga de madeira e outra e o detalhe é que tinha lugar que não tinha onde apoiar os pés. Não podia andar devagar por que senão a roda dianteira caia nas falhas e se corresse muito tinha o risco de seguir pelo trilhos e o tombo seria certo. Essa nova ponte foi um alívio, é parte do projeto do asfalto que está seguindo para Corumbá em Mato Grosso do Sul. Essa estrada está quase toda asfaltada, faltando apenas 100km do mais puro areão. Em Concepcion finalmente conseguimos trocar o óleo. O mais impressionante é que num lugar que não tem nada, essa cidade é um ovo, tinha uma oficina com todo tipo de óleo de moto. Do Frances Motul até o Yamalube. Vai entender!!!! Aqui começou o trecho de terra e não imaginávamos os problemas que estavam por vir. Um calor infernal e 150 km de poeira e cascalho até San Inácio. Chegamos no fim da tarde e já fomos procurar hotel. Ficamos no La Mision, hotel 5 estrelas muito bom, de primeira qualidade, o mais impressionante é um hotel daquele calibre numa cidadezinha daquela. 
A parede frontal dos quartos é de vidro, toda de vidro, não tinha visto aquilo ainda. A cidade não oferece bons restaurantes e infra-estrutura nenhuma e pra variar no dia que saímos estava faltando gasolina nos postos de combustíveis.

San Ignácio - Cáceres - Km 250:
Esse trecho foi marcado por problemas e sofrimento, aqui o bicho pegou. A moto do Saul começou a dar problema na corrente, mas antes disso surgiu um porco na frente dele  novamente, por pouco. Não demorou muito quebrou a corrente da moto e como só o Saulo tinha a chave de roda, tivemos que esperar ele voltar, ficamos ali uns 20 minutos e assim que foi feito o reparo continuamos a viagem. Logo em seguida saul caiu novamente mas desta vez no areão, levantou, sacudiu a poeira e seguimos enfrente. Novamente reagrupados, mas desta vez com a Daniele na garupa do Saul pra ver se melhorava a estabilidade, como de fato melhorou.
Não muito distante dali, eu vinha bem atrás deles, comendo poeira quando assisto, em câmera lenta, mais um tombo do Saul, desta vez com Daniele na garupa, novamente problema de corrente quebrada. Desta vez esperamos Saulo em vão, pois ele adiantou muito na estrada e acabou ficando sem combustível para voltar, pois não sabia a quantos kilômetros estávamos pra trás. Aguardamos por longas 2 horas em plena trans-cocaleira Boliviana até que uma boa alma numa camionete parou  e resolveu nos ajudar, isso depois de Daniele ajoelhar para o motorista e rezar uns 10 pai nossos pro camarada parar. Hilário pra não chorar, ali nossa situação realmente estava preocupante, pois os ferimentos do Saul estavam piorando cada vez mais com essa sucessão de problemas, pra não falar que o dinheiro estava no fim. 

A camionete nos deixou numa localidade chamada São Bertoldo que não tinha nada, o único bar era também escola, mas como sempre pra quem tá no fundo do poço, só resta subir, assim que chegamos nesse barzinho, chegou um camarada pra usar o telefone, pasmem vocês mas o cara era mecânico, a corrente da moto do Saul esta em vários pedaços amassados e o camarada, não sei como, juntou aquela partes e fez novamente uma corrente que resistiu por mais uns 200km. O ritmo da viagem caiu e junto anoiteceu também. Viajar a noite pela trans-cocaleira na Bolívia é convidar-se pra problemas e nós seguimos por ela madrugada a dentro. Caminhões aparentemente zerados e vazios passava por nós a todo o momento, bem como camionetes novas que com certeza foram roubadas no Brasil  e estavam chegando a seu destino, geralmente trocadas por drogas pesadas. Mato Grosso é umas da principais rotas de entrada de drogas no Brasil e nós estávamos bem ali, de madrugado e bem devagar pra corrente não quebrar novamente. Coisa de Lôco! Passamos pela fronteira já era de madrugada e não tinha ninguém, nem do lado Boliviano e nem do lado Brasileiro. Saímos todos da Bolívia sem registrar a saída daquele país e sem gasolina, foi a primeira vez que minha moto andou 80km na reserva até Cáceres. Chegamos às 2h da madruga.

Cáceres - Cuiabá
No dia seguinte, fomos à Yamaha pra fazer o reparos na moto do Saul e acabou que ela ficou lá mesmo. Eu vim de moto e Daniele, Saul e Camila vieram com seus pais.